segunda-feira, 12 de março de 2007

Psicologia Positiva

NÃO PERGUNTE SE VOCÊ É FELIZ !

McMahon:
Autor do livro Felicidade – Uma História (tradução de Fernanda Ravagnani e Maria Sílvia Mourão Netto; Editora Globo; 558 páginas; 56 reais ). Professor e Historiador da Universidade da Flórida, nos EUA.
Em entrevista a Veja:

ESTUDAR A FELICIDADE PODE FAZER ALGUÉM FELIZ?
- Quanto mais penso sobre a felicidade, mais complicada ela se torna. Mas também acho que estou menos obcecado pela felicidade do que na época em que comecei a escrever o livro. O inglês Stuart Mill, que passou grande parte da vida estudando o tema, descobriu a certa altura que, quando um homem se pergunta se é feliz, ele deixa de sê-lo. Em certo sentido, concordo com ele.

POR QUE TANTAS PESSOAS NO OCIDENTE SE AFASTAM DAS TRADIÇÕES RELIGIOSAS QUE LHES SÃO FAMILIARES PARA BUSCAR A FELICIDADE EM VERSÕES NEW AGE DAS FILOSOFIAS ORIENTAIS?
- Existe essa idéia antiga de que a felicidade não se encontra na vizinhança, que ela está em algum lugar "lá fora", escondida. Para encontrá-la, é preciso tentar alguma coisa nova, diferente, e as religiões asiáticas oferecem isso ­ uma nova maneira de olhar para as velhas perguntas. É um fenômeno da cultura popular. Mas, na tradição filosófica mais estrita, há outra questão que talvez contribua para isso: está cada vez mais difícil encontrar filósofos contemporâneos que falem da felicidade. Este já foi o foco central da filosofia: como conduzir uma vida boa. Mas, no século XXI, a filosofia deu uma virada para as chamadas questões epistemológicas.

AS NOVAS TENDÊNCIAS DA PSICOLOGIA E DA NEUROLOGIA, QUE PRETENDEM MENSURAR A FELICIDADE AFERINDO, POR EXEMPLO, ONDAS CEREBRAIS, PODEM SER UMA REVOLUÇÃO NO ESTUDO DO TEMA?
- Desde o século XVIII há tentativas de medir a felicidade, de encontrar ferramentas científicas para analisá-la. Avançamos muito nesse sentido, na compreensão dos aspectos fisiológicos e genéticos do fenômeno. Mas a felicidade também possui uma dimensão cultural relacionada a questões sobre Deus, as virtudes, o significado da vida. Tudo isso gera anseios que não se podem medir no laboratório.

ALGUNS ECONOMISTAS TEM ENCONTRADO RELAÇÕES CURIOSAS ENTRE RIQUEZA E FELICIDADE – POR EXEMPLO, QUE PAÍSES QUE ENRIQUECERAM NOS ÚLTIMOS ANOS NÃO AUMENTARAM SEU GRAU DE FELICIDADE NA MESMA PROPORÇÃO. POR QUE ISSO ACONTECE?
- Tem a ver com o modo como os seres humanos se adaptam aos prazeres. É algo que todo pai já observou nos seus filhos: logo que eles ganham um brinquedo novo, ficam contentíssimos, mas depois o entusiasmo esfria. Psicólogos contemporâneos chamam isso de "roleta hedônica". Os filósofos – incluindo Adam Smith, o arquiteto intelectual do capitalismo – sempre souberam que o dinheiro não compra a felicidade.

DAS ABORDAGENS MAIS RECENTES, QUAL SERIA A MAIS PROMISSORA NO ESTUDO DA FELICIDADE?
- Alguns aspectos da novíssima psicologia positiva são promissores ao conjugar o rigor científico com a tradição filosófica. Seria um erro grosseiro criar uma divisão entre ciência e filosofia. Uma visão estritamente materialista do mundo botaria a perder a inspiração oferecida pela literatura, pelas tradições religiosas. Ao mesmo tempo, será tolo esperar que a filosofia resolva todos os problemas. Os psicólogos positivos mais sofisticados, como Jonathan Haidt, estão tentando estreitar esse abismo.
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Fonte: Revista Veja, seção literatura, Edição 14.03.2007

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